Sunday, June 17, 2007

Desvendando o Código da Vida



Outro dia, conversando com meu bom amigo Figueiredo, fui apresentada ao mais novo livro do ex-ministro da justiça, advogado da família Sarney (se o currículo fosse meu, certamente omitiria isso) e ex-secretário de segurança pública de São Paulo, Saulo Ramos.

Eis a sinopse do livro, fornecida pela editora: “Em Código da Vida, a pretexto de contar, com todos os detalhes, um caso curiosíssimo que viveu como advogado, Saulo Ramos entremeia essa história de suspense absolutamente verídica com sua história de vida, desde a infância nas cidades paulistas de Brodowski e Cravinhos, até os dias de hoje. Desobedecendo todas as obviedades da estrutura tradicional das biografias, Saulo Ramos constrói uma obra de qualidade espantosa, seja pela riqueza vocabular de sua linguagem, seja pela maestria com que utiliza os recursos literários de uma narrativa. Mas, como se isso não bastasse, a vida de Saulo Ramos tem ingredientes dignos das mais importantes biografias já publicadas no Brasil. Como o menino do interior chegou a Consultor Geral da República?”.

Supondo que eu pudesse pagar R$200.000,00 por um parecer de Saulo, considerado um dos maiores juristas do país (o que quer que isso signifique), “Código da Vida” não seria considerado plágio descarado de “Código Da Vinci”? Mas, ignorando essa bobagem de direitos autorais e voltando à sinopse do livro, analisemos um pouco o texto. O que significa “desobedecendo todas as obviedades da estrutura tradicional”? Para mim, parece que ele não escreve de forma estruturada e compreensível para os leigos em direito e ainda justifica isso como inovação na língua portuguesa. Mais um para o time do Saramago! E “riqueza vocabular”? Parece que o autor da sinopse é mais um jornalista pseudo-alfabetizado de Veja e considera jargão profissional algo que enriquece a língua. Neste momento, Nietzsche pega seu martelo e se prepara para emergir das profundezas do Inferno. “Maestria com que utiliza os recursos literários de uma narrativa”...? Oras! Sempre que leio coisas desse tipo e vou conferir, noto que o cara simplesmente faz digressões, se perde nelas e retoma o texto do nada, dando a idéia de que é proposital. E ainda chama de hipérbato e faz sucesso!

Agora, de fato, concordo com a última dúvida: “como o menino do interior chegou a Consultor Geral da República?” e ainda acrescento: como um menino pobre do interior do Brasil chegou a Consultor Geral da República? Desobedecendo (e ajudando a quem desobedece) todas as obviedades da estrutura tradicional?

Com ilustração de Figueiredista.

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